terça-feira, 24 de abril de 2018

MUTIRÃO PELA VIDA, A JUSTIÇA E A ESPERANÇA!


incorruptíveis!

A BRISA DA JUSTIÇA RENOVA A SOCIEDADE


"Uma injustiça feita a uma só pessoa
é uma ameaça para toda a humanidade"

A realidade gritante, que nos cerca, exige das comunidades e dos agentes de pastoral lucidez, coragem, proximidade, coerência e profecia. Os desafios, em vez de diminuir, aumentam cada dia. A corrupção, a violência, as injustiças, e as dores e clamores de multidões de pessoas, que sofrem as consequências de tudo isso ao longo do planeta, exigem novas atitudes evangélicas. Formação cada dia mais específica. Competência para responder aos gritos dos pobres, dos pequenos e excluídos. Precisamos revisitar a Palavra de Deus, para encontrar fontes de água viva para restaurar nossas forças, alegrias, compromissos e esperanças. De multiplex praças chegam até nós chamadas de atenção, cuidados e vigilância. A Palavra e a caminhada do Povo de Deus podem iluminar nosso mundo globalizado, repleto de indiferença e excludente!  Por isso, as comunidades e agentes de pastoral precisamos cantar e sonhar: "A justiça ainda aqui na terra precisa ser segundo o Evangelho!", como diz um canto das comunidades. É um sonho, uma tarefa, um desafio gritante e uma assinatura ainda pendente na realidade brasileira.
Agora estamos na aldeia global. Novo paradigma. Novos olhares! Tudo ao vivo! Hoje, na sociedade da informação... Assim poderíamos seguir respigando manchetes. Mas o que não cabe a menor dúvida é que nunca como hoje se espalham boatos, meias verdades, inverdades descaradas ou até “fake News!”: notícias declaradamente falsas, inventadas, com tal de ganhar, levar vantagem ou “tirar uma lasquinha! Basta abrir os olhos da memória e contemplar a história com lucidez.
Atarefados, e outros tomados de cobiça
Nas reuniões de comunidade ou na avaliação final, escuta-se frequentemente que as pessoas estão super atarefadas, que não encontram tempo para a família, nem para se prepararem, nem para nada. Vejamos um exemplo tomado do Povo de Israel pelo deserto. É bom para nós também aprendermos. A travessia pelo deserto foi uma caminhada e tanto. Ficou gravada na memória popular. Durou 40 anos! Foi um grande e demorado aprendizado. Quando faltava alguma coisa lá chegavam queixas: "falta água!" (Ex 15,24), "falta comida!" (Ex 16,1-3).
O livro dos Números diz que alguns dos filhos de Israel se puseram a chorar e a dizer: "Quem nos dará carne para comer? Lembramo-nos do peixe que comíamos por um nada no Egito, dos pepinos, dos melões, das verduras, das cebolas, dos alhos!". Só viviam se queixando: "Agora estamos definhando, privados de tudo; nossos olhos nada veem senão este maná! "(Num 11,4-6). A comida falta, só tem maná. O problema parecia ser falta de comida. Mas junto com essas queixas somos informados de outro detalhe que se passa no coração: um pessoal "que estava no meio deles foi tomado de cobiça". Conta-nos a raiz de algo muito maior e a causa disso.
Rumo à terra prometida, passo a passo, Moisés e o povo vão aprendendo a conviver, a se relacionar e a resolver os problemas e conflitos quando chegam.

Tudo nas mãos de uma andorinha
Muitas coisas ficam esperando anos. Processos eternos, engavetados sem data de vencimento. Enquanto isso, pessoas clamando a Deus por uma justiça que tarda em chegar.
O livro do Êxodo conta como Moisés trabalha de sol a sol (Ex 18,13-27). Cansa-se ouvindo o povo que vem consultar a Deus, quando tem uma questão ou quer conhecer os projetos de Deus. Isso Moisés faz sozinho. Não dá conta do recado. Vai se esgotar. A tarefa é grande demais para uma andorinha só. Não vai fazer verão! Porém Moisés e os anciãos têm um papel importante na travessia. Jetro, o sogro de Moisés, vai iluminar Moisés para um jeito diferente de "julgar", de atuar e de resolver as dificuldades.

- Sozinho não dá, Moisés, disse Jetro. Por que te assentas sozinho, e todo o povo está em pé diante de ti, desde a manhã até o pôr-do-sol?"
"É porque o povo todo vem a mim. Julgo entre um e outro e lhes faço conhecer os decretos e a vontade de Deus".

O sogro que tinha visto o jeito de fazer respondeu a Moisés: "Se continuar assim você vai morrer! Você e o povo também! A tarefa é muito pesada para você. Impossível realizá-la sozinho! Escuta o meu conselho para que Deus esteja contigo: "representa o povo diante de Deus, e introduze as suas causas diante de Deus. Ensina-lhes os estatutos e leis, faze-lhes conhecer o caminho a seguir e as obras que devem realizar".

O sogro de Moisés era experiente. Era sacerdote de Madiã (Ex 18,1), tinha sete filhas e ofereceu hospitalidade a Moisés. Na casa dele Moisés ficou um tempão. Casou com a filha dele, Séfora. Teve um filho, Gersam, que vai lhe recordar constantemente sua situação de "migrante em terra estrangeira" (Ex 2,16-22). Na família de Jetro deve ter aprendido muitas coisas. Jetro era uma pessoa que escutava mesmo, que sabia contemplar a realidade antes de falar ou aconselhar (Ex 18,1.14). Por isso, aconselha-lhe a Moisés para governar o povo com sabedoria, compartilhando o peso da responsabilidade.

 Terra prometida, lugar de justiça  

Para acolher os apelos e fazer justiça como Deus quer, Jetro dá para Moisés um conselho, válido até hoje: "Escolhe do meio do povo homens capazes, tementes a Deus, seguros, incorruptíveis, e estabelece-os como chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez. Eles julgarão o povo em todo tempo. Toda causa importante trarão a você. Toda causa menor eles mesmos julgarão. Assim eles levarão a carga com você".


São vários os elementos significativos. A carga será partilhada, vai ser menor o peso. Causas menores podem ser julgadas logo. Toda causa importante vai exigir mais atenção, justiça e cuidado. Responsabilidades vão ser diferenciadas. Além disso é importante salientar os critérios que Jetro leva em conta para escolher pessoas responsáveis e coordenadores, juízes segundo o coração de Deus.
- Capazes, competentes, preparados. Julgar é tarefa difícil. Sempre foi. Isso não se improvisa. Exige preparação, discernimento, paixão, dedicação, integridade!  Num texto paralelo, no livro do Deuteronômio, Moisés conta como se sente sozinho para carregar todo aquele povo, numeroso como as estrelas. Insiste na dificuldade de carregar o peso, a carga e os processos. E por isso, pede para que “escolham homens sábios, inteligentes e competentes de cada uma das tribos, e ele os constituirá chefes”. Uma vez escolhidos. Moisés vai ordenar aos juízes: «Escutem seus irmãos para fazer justiça entre um homem e seu irmão ou imigrante que mora com ele. Não façam acepção de pessoas no julgamento: escutem de maneira igual o pequeno e o grande. Não tenham medo de ninguém, porque a sentença vem de Deus. Se a causa for muito difícil para vocês, tragam para mim, e eu a resolverei» (Dt 1,9-17).
- Tementes a Deus
O temor do Senhor é um tema recorrente e tem uma dupla face: faz referência a Deus, em primeiro lugar, mas ao mesmo tempo diz respeito às categorias mais frágeis da sociedade que devem “nos importar” prioritariamente. No livro do Deuteronômio encontramos vários convites a ter essa sensibilidade para órfãos, imigrantes, viúvas. Três categorias que o rei deve ter muito presentes. “Circuncidem o coração, porque Javé seu Deus é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, valente e terrível, que não faz diferença entre as pessoas e não aceita suborno. Ele faz justiça ao órfão e à viúva e ama o imigrante, dando-lhe pão e roupa. Portanto, amem o imigrante, porque vocês foram imigrantes no Egito. Tema e sirva a Javé seu Deus, apegue-se a ele e jure pelo seu nome” (Dt 10,16-20)
Vejamos o que isso quer dizer a partir de um exemplo do evangelho. No evangelho de Lucas, um evangelho muito sensível à realidade dos pobres e marginalizados, encontramos uma parábola ilustrativa de Jesus. «Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, e não respeitava homem algum. Na mesma cidade havia uma viúva, que ia à procura do juiz, pedindo: ‘Faça-me justiça contra o meu adversário!’. Isso parece a luta de Davi contra Golias. As viúvas em Israel, tanto no Antigo Testamento como no tempo de Jesus, não tinham um defensor legal, ficando a mercê dos juízes desonestos: “Os seus chefes são bandidos, cúmplices de ladrões: todos eles gostam de suborno, correm atrás de presentes; não fazem justiça ao órfão, e a causa da viúva nem chega até eles” (Isaías 1,23).  Outro texto denuncia a suprema corrupção: “Ai daqueles que fazem decretos iníquos e daqueles que escrevem apressadamente sentenças de opressão, para negar a justiça ao fraco e fraudar o direito dos pobres do meu povo, para fazer das viúvas a sua presa e despojar os órfãos” (Is 10,1-2). Jesus manda ter cuidado com os letrados, pois, com “pretexto de longas orações, devoram as propriedades das viúvas” (Mc 12,40).
 Apesar do Juiz não se importar com Deus nem com o povo, depois de muito tempo se recusar em julgar a causa, o juiz por fim pensou: “Eu não temo a Deus, e não respeito homem algum; mas essa viúva já está me aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não fique me incomodando”. O juiz acaba aceitando a causa pela teimosia da mulher. Mas o texto original grego é ainda mais forte que algumas traduções. O versículo 5 diz literalmente no texto original grego: visto que esta viúva está me importunando, eu lhe farei justiça, para que não me esbofeteie”.
O juiz em função é “iníquo”: não teme a Deus nem respeita as pessoas. É significativa esta associação: respeitar a Deus e as pessoas: implicam-se mutuamente. Certas espiritualidades desconectam uma dimensão da outra e a vida das pessoas fica “capenga!” e não responde ao projeto de Deus, pois não basta dizer e louvar: “Senhor, Senhor, Senhor!” (Mt 7,21-24; cf. Jr 7,4-7), se não se traduz tudo isso em justiça, proximidade, solidariedade com os estrangeiros, órfãos e viúvas, evitando oprimi-los e derramar sangue inocente.
Neste caso, temos um juiz, que não teme a Deus e não lhe importam nada as pessoas, e uma viúva, que sim teme a Deus, e luta por justiça, como as parteiras (Ex 1,17; Salmo 14). Ela vai colocar contra a parede o juiz até que responda (Lc 18,1-8). Os julgamentos aconteciam na porta da cidade ou em outro lugar público, de modo que a viúva tinha acesso e podia reclamar publicamente. A mulher não desespera, insiste teimosa e tenazmente. É sua única arma. A única arma de seu Jurandir ante o Delegado em Salvador de Bahia. Mataram seu filho e cada quinze dias, pelo espaço de dois anos, foi procurando justiça na Delegacia. Tanto incomodou o delegado que decidiu “prendê-lo um fim de semana”. Procura ver o andamento. Exigia justiça, nada especial, mas o delegado achou isso “um desrespeito!” Quem procura justiça arrisca, mas se se resigna acaba fazendo o jogo da injustiça. A viúva luta persistentemente até que o juiz ceda e se ocupe dela por puro egoísmo: para que não me encha, diríamos em linguagem popular. Mas aqui, há um detalhe curioso: “para que não me esbofeteie!”. Se isso chegasse a acontecer, seria um vexame público, incrível. Não deve acontecer! De repente, já tinha acontecido em algum caso precedente. E assim, a viúva voltou para casa alegre e feliz, com a vitória na mão!

Quem teme a Deus encontra uma fonte de coragem e liberdade (parresia), e renova a sua força como as parteiras Séfora e Fua, e recebe de Deus uma promessa de felicidade (Ex 1,15-22). Temer a Deus significa, portanto, se importar com a Palavra de Deus e com a vida, a justiça e a dignidade das pessoas, grupos ou classes mais desprotegidas: viúvas, órfãos, estrangeiros...

- Seguros, firmes: não areias movediças, nem a mercê de qualquer vento de interesse (Lc 7,24-27). Que não vacilam, nem falam hoje uma coisa e outra amanhã. Que sabem manter o próprio critério e enfrentar opiniões contrárias. Lembro agora uma história. Faz alguns anos, em Salvador, me comentava uma pessoa que era assessor de um deputado. O que vemos é que o tal deputado afirma hoje tal coisa e uma semana depois se esqueceu do que disse, mas não volta atrás. Só olha para frente! A palavra dessa pessoa é papel molhado!
- Incorruptíveis! Os três primeiros critérios são difíceis de seguir à risca, mas o quarto é quase um milagre ser encontrado na terra dos vivos! É tão fácil colocar um preço para cada coisa. Quem não entende isso é bobo. Não tem os pés no chão.

Contemplando os acontecimentos da vida, sintamos a brisa da Palavra de Deus, pois "toda Escritura inspirada por Deus é útil para instruir e refutar, para corrigir e formar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para toda a espécie de boas obras" (1 Tm 3,16).
Tomara que, hoje, a Palavra de Deus e todos esses critérios fossem levados em prática pelas pessoas que exercem cargos públicos: governadores, senadores, prefeitos, juízes, advogados, delegados, fiscais... Capazes, tementes a Deus, seguros e incorruptíveis, pois "uma injustiça feita a uma só pessoa é uma ameaça para toda a humanidade".

Justino Martínez Pérez
Missionário Comboniano

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

O EVANGELHO SE COMPREENDE COM OS PÉS

EU ACREDITO É NO EVANGELHO DE JESUS!

Mc 1,14-15

O meu objetivo
O meu propósito, o meu objetivo, neste ano de graça de 2018 é muito simples: navegar pelo Evangelho de Marcos. Deixar meu barco singrar esse mar bonito e cativante, descobrindo suas surpresas, beleza e riqueza. E ao mesmo tempo, meu objetivo é um pouco audacioso: ajudar pessoas, grupos, comunidades e agentes de pastoral a navegar por esse mar, sem ter medo das tempestades que podem acontecer no percurso (Mc 4,35-41; 6,45-53), confiando, sempre, na palavra do Senhor: “Avance para águas mais profundas” (Lc 5,4; Jo 21,6).



NAVEGAR É PRECISO!

Hoje, todo o mundo navega pelas redes sociais, mas o povo das comunidades encontra dificuldade enorme em navegar pela Bíblia, em familiarizar-se, por exemplo, com os evangelhos: coisa difícil de entender! A Bíblia é muito difícil de entender, padre! E, ainda, penso eu, muito mais difícil de escutar, acolher, contemplar, viver e anunciar!


JESUS COMEÇOU A PROCLAMAR
Vamos aceitar o anuncio programático de Jesus, esse convite de acreditar no Evangelho: essa aventura, pessoal e comunitária (Mc 1,14-15). Vamos nos aventurar e treinar, pois convencido estou que vale a pena investir nessa empreitada um ano e um dia! Jesus segue passando no ateliê de todas as profissões e como a Levi convida-nos a segui-lo. A nós toca, com coração agradecido, preparar o banquete e celebrá-lo com nossos amigos e os amigos de Jesus (Lc 5, 27-31; Mc 2,13-17; Jo 15,8-17).
A pregação de Jesus
Depois que João Batista foi preso, Jesus voltou para a Galileia, pregando a Boa Notícia de Deus:  «O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e acreditem na Boa Notícia». Estamos diante das primeiras palavras de Jesus: elas apresentam a chave para interpretar toda a sua vida, atividade e missão. Cumprimento: em Jesus, Deus se entrega totalmente realiza seu plano de salvação. Não é mais tempo de esperar. O Reino é o amor de Deus que toca e transforma pessoas e comunidades (Mt 5,48; Lc 6,36). Está próximo: o Reino é dinâmico e está sempre crescendo. Conversão: a ação evangelizadora e o encontro com Jesus exigem mudança radical da orientação de vida. Acreditar na Boa Notícia: é aceitar o que Jesus realiza e empenhar-se com ele.


Acompanhe a nossa caminhada apaixonada pelo Reino de Deus, seguindo as pegadas e testemunhas que Marcos nos deixou no Evangelho, e partilhe suas descobertas, perguntas, dúvidas, sonhos e alegrias de viver e anunciar o Evangelho hoje. Marcos, ao longo do seu relato, deixa alguns convites, dicas e modelos para nos espelhar e focar no que vale realmente a pena. Pode conferir: Mc 1,45; 6,30-31; 14,9; 16,15.

AS PERGUNTAS DE UM COROINHA
Acabo de celebrar a Eucaristia. Domingo mundial das missões. Estou saindo, para ir para casa, mas o coroinha, vestido ainda com a roupa da missa, aproxima-se correndo, e eu me imagino o jovem do evangelho que chega perto de Jesus com uma pergunta urgente, e me disse: Justino: Conversão, Vocação ou Missão! Mas as perguntas começaram por outro viés.
- Padre, não leve a mal. Vou lhe fazer uma pergunta.
- Pode perguntar.
- O senhor é da Teologia da Libertação?
- Como assim?
- Sim, se o senhor é dessa Teologia chamada da Libertação?
- Bom..., na verdade é que fiquei admirado com a pergunta. Na homilia tinha falado da Igreja em saída.  De partilhar a alegria do Evangelho com todos os povos... Dos jovens, como o futuro da missão! Nada me fazia pensar em semelhante pergunta. Por outro lado, o menino ainda não tinha idade para frequentar a universidade... Tento refletir com meus botões. Depois da Eucaristia sempre chega alguma pessoa que quer se confessar ou tratar um assunto pessoal muito variado. Agora uma prova do “ENEM DE UM COROINHA”, assim, de repente, nunca tinha acontecido na minha vida!  Procuro me concentrar, porque as perguntas parecem continuar...
- Então, o senhor não é dessa Teologia?

- Olha, eu sou biblista, gosto muito da Bíblia, sou apaixonado pelo Evangelho, acredito e foco minha vida no Evangelho. Nele eu realmente acredito e garimpo todos os dias as pérolas escondidas! Por ele e pelos pobres sou capaz de ir de ônibus de Salvador da Bahia até Manaus, ou, como fiz uma vez, de Vitória, no Espirito Santo, até Cacoal, na Rondônia, enfrentando mais de mil quilômetros sem asfalto: Uma odisseia no espaço!
- Então, o senhor não acredita em Leonardo Boff?
-Não, acreditar, acreditar... NÃO! Eu acredito, SIM, é no Evangelho. O Evangelho de Marcos bem no comezinho apresenta e mostra o programa de vida de todo discípulo de Jesus: “mudar de vida e acreditar no Evangelho! Aí está tudo, tudo mesmo!”. Não somente para uma quaresma, mas para toda uma vida de serviço e solidariedade com os mais excluídos, acompanhando os processos da humanidade por mais duros e demorados que sejam, pois somos chamados a cuidar dos mais frágeis e pequeninos da Terra (EG 209-216), tocando com mão “a carne sofrida de Cristo no povo” (EG 24) e as feridas dos parceiros de caminhada! (Mc 1,41; 3,10; 5,27.28.30.31;6,56(2x); 7,33; 8,22; 10,13).
-Então, você não segue esse chamado Leonardo Boff?
- Pois vai ser que NÃO!  Seguir, seguir: NÃO! Eu sigo, SIM! Jesus de Nazaré, intento viver e anunciar o Evangelho, pois isso me alarga e alegra o coração para correr pelo caminho do Senhor (Salmo 119,32), traz “uma novidade inesgotável”, como diz o Papa Francisco, e é realmente Li-ber-ta-dor! (Lc 21,28; Mt 11,25-30; 4,23-9,38; 25,31-46).
- Então, você não acredita ou não é disso que chamam marxismo?
- Que negócio é esse? Olha, menino, eu só acredito em Jesus Cristo e somente nele tenho fixo o meu olhar (Lc 4,20. Hb 12,1-2), e “não me envergonho do Evangelho, pois ele é força de Deus para a salvação de todo aquele que acredita. De fato, no Evangelho a justiça se revela única e exclusivamente através da fé, conforme diz a Escritura: «o justo vive pela fé” (Rm 1,16-17).
Justino Martínez Pérez
85-999-394383





sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

O EVANGELHO SE COMPREEENDE COM OS PÉS

MERGULHANDO NO EVANGELHO DE MARCOS

METODOLOGIA

Para você e para sua comunidade que estão acompanhando esta nova série - O EVANGELHO SE COMPREENDE COM OS PÉS- sobre o Evangelho de Marcos, convidamos a calçar suas sandálias ou seu tênis, pois começamos a treinar: Ler, Garimpar, Saborear.

 Propomos, de entrada, ler o primeiro capítulo: leia devagar, sem pressa, com o coração, e se deixando cativar pela novidade. Palavras comuns podem ter um conteúdo simbólico, teológico, espiritual que jamais imaginou. O primeiro versículo serve de título e resumo de todo o Evangelho. Logo podemos distinguir dois cenários: Do versículo 2 até o 20, primeiro cenário. O segundo cenário, do versículo 21 até 45, mostra uma Jornada significativa de Jesus. Vale a pena acompanhar passo a passo!


Sandálias e tênis: Bíblia e caderno

 Deixamos constância e insistimos: leia o texto da sua Bíblia e anote suas descobertas e as dificuldades que encontrou. E volte sobre isso mais tarde. Para curtir suas descobertas, para esclarecer suas dúvidas. E continue lendo, garimpando, curtindo.

 Lembre-se de uma coisa: O primeiro capítulo são como as “instruções” para utilizar sua lavadora ou aparelho de TV. Se saltar alguma dica: assuma suas consequências. O narrador do Evangelho vai dando pequenas dicas, mostrando as coordenadas a ter presentes para seguir Jesus. Está falando da memória das testemunhas e comunidades e como mudaram sua vida, encontraram sentido e anunciaram o Evangelho a toda criatura. Vale, sim, a pena seguir o roteiro e não pular de galho em galho!
















Justino Martínez Pérez – Missionário Comboniano
WhatsApp: 85-999-394383





segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

O EVANGELHO SE COMPREENDE COM OS PÉS

EVANGELHO: BOA NOTÍCIA PARA OS POBRES
O novo ciclo litúrgico está aí: Ano B. Estamos no tempo de Advento e por todo o ano 2018, o Evangelho segundo Marcos vai ser nosso “Roteiro”, nossa “Guia Litúrgica” teológica, espiritual, pastoral, missionária. Isso traz para nós, seguidores de Jesus, comunidades que caminhamos na estrada de Jesus, uma grande beleza e profundidade; um grande desafio e também uma promessa de felicidade e alegria: descobrir ou redescobrir a nossa identidade e missão, como discípulos que seguem as pegadas de Jesus, o Mestre, o Guia que nos precede e nos conduz como Moisés, Aquele que vai na nossa frente e cujo rumo e destino não são muito claros para nós, como não era para Pedro e as outras  pessoas que acompanhavam Jesus, e isso nos deixa “perturbados e talvez o seguimos com medo” como os discípulos quando Jesus se põe a caminho de Jerusalém (Mc 10,32).
Muitas comunidades, do mundo todo, vão seguir o Evangelho de Marcos. Queremos oferecer algumas dicas, pistas chaves e eixos para ajudar pessoas, grupos e comunidades, agentes de pastoral, a caminhar na estrada de Jesus seguindo o Evangelho segundo Marcos: o Evangelho, a memória e o testemunho que o evangelista junto com suas comunidades nos deixaram como testamento, uma herança rica e de valor incalculável se soubermos aproveita-la com criatividade, alegria e perseverança; se tivermos a ousadia de adentrar-nos nessa mina de diamantes e garimpar com constância, cada dia uma página, onde podemos descobrir o que significa “ler” ou “escutar o Evangelho” como se fosse a primeira vez, não pensando que já o conhecemos.

Vou contar uma história do primeiro mês quando estava estudando teologia e o professor estava explicando os Evangelhos Sinóticos - Mateus, Marcos e Lucas – e a relação que se dá entre eles. Emilio Rasco, o professor, grande professor como o definia Arturo Sosa, companheiro de curso, corria muito e passava de um evangelho para outro. Partindo de Marcos visitava Mateus e logo Lucas e logo voltava para Marcos. Esse era o roteiro, vamos dizer assim. O ponto é que na metade do caminho ou no final eu me perdia: tinha falado uma citação, e agora, José, essa citação se refere a Marcos ou está em Lucas... Conversando com Arturo lhe expus minha confusão e desânimo. Não encontrava isso muito interessante. Aí Arturo me comentou que Emilio Rasco era um grande professor, que estava preparando a tese de doutorado sobre o Evangelho de Lucas e Atos, e que o tema era a Salvação na obra lucana. Agora, o que mais me impactou foi quando disse que Rasco levava doze anos trabalhando esse tema e tinha pedido “mais dois para acabar, porque tinha medo de defender a tese”. Aquilo foi uma surpresa, um desafio e uma provocação. Se aquele professor tinha dedicado doze anos já a Lucas e Atos e ainda lhe faltava alguma coisa..., aquilo devia ser uma mina e tanto, muito mais rica que as minas do Rei Salomão.
 Portanto, convido você a ler e acompanhar passo a passo as pegadas de Jesus, seguindo todo o roteiro que Marcos vai mostrando. Evite pular de galho em galho. Comece pelo começo e siga página trás página o desenrolar dessa história. Não é uma história que aconteceu apenas ontem. Essa história foi contada para você e para nós, para as nossas comunidades, para que façamos aquela mesma experiência que aqueles pescadores tímidos sentiram quando Jesus se aproximou do lago e disse o nome de cada um deles, e um trás outro foram seguindo Jesus, desconcertados e medrosos, até que tiveram força, mas quando chegou a hora “H”, “todos o abandonaram e fugiram” (Mc 14,50). O Evangelho do Reino de Deus é uma aventura fascinante, onde não falta risco e é necessário muitas vezes tomar Atitude! Os evangelistas narram os avatares do seguimento com suas exigências, alegrias, frustrações e até fugas! Por outro lado, não se cansam de registrar que também havia muitas mulheres (Mt 27,55) que, de longe, olhavam; tinham seguido Jesus desde a Galileia para o servir e ficaram firmes até o final. Marcos salienta: Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde o depositaram (Mc 15,47). Interessante que Mateus acrescenta que também está la presente ainda a mãe dos filhos de Zebedeu (cf. Mt 20,20-23; Mc 10,46-52; Lc 18,35-43).
Começamos contando a história de Marcos. O depoimento dele nos aproxima do Evangelho: Boa Notícia que toca o coração e faz caminhar, avançar, assobiar e sonhar.

De pia João, de apelido Marcos!
 Muitas comunidades querem saber quem sou eu, Marcos, e o que eu fiz. Querem saber meu nome? De pia me chamaram João, mas virei famoso pelo apelido: Marcos. Conheci de perto reuniões e decisões. Na casa de minha mãe se cozinhava muita coisa, muita reza, lá era a casa da comunidade... Como aquela noite em que libertaram Pedro, e a menina, de nome Rode, foi abrir a porta e, de contente, deixou Pedro esperando... Ninguém acreditava que Pedro estivesse por lá:  “Pedro então refletiu e foi para a casa de Maria, mãe de João, também chamado Marcos, onde muitos se haviam reunido para rezar. Bateu à porta, e uma empregada, chamada Rosa, foi abrir. A empregada reconheceu a voz de Pedro, mas sua alegria foi tanta que, em vez de abrir a porta, entrou correndo para contar que Pedro estava ali, junto à porta. Os presentes disseram: «Você está ficando louca!» Mas ela insistia (Atos 12,12-15).
Quem sou eu? Nem sei muito bem quem sou eu. Se vocês me deixam, direi que eu sou espelho e janela. Isso é o que eu sou e o que sempre quis ser. Isso é o sentido de tudo o que eu escrevi no evangelho que agora leva meu nome, mas que seria mais exata falar sempre do EVANGELHO DE JESUS CRISTO. Meu objetivo era ser espelho. Simplesmente ser espelho para refletir o rosto de Jesus Cristo com suas palavras, gestos e atitudes, e janela que mostra a grandeza da missão que Ele nos confia até o fim dos tempos.



Andarilho do Evangelho
 Essa é minha carteira de identidade. Minha história se mistura com a história de Jesus. Para fazer uma casa tem que misturar areia, brita, cimento, água, tijolo... Assim também para vocês me entenderem, devem misturar a minha vida com o Evangelho de Jesus. Essa pessoa me cativou. Essa causa cativou muitas outras. Cativou minha Mãe... sei lá, tantos homens e mulheres... Um dia, descobri Jesus na comunidade. Vi que Jesus dava sentido a minha vida. Por Ele e pelo Evangelho deixei tudo, como Pedro, João, Madalena, Maria, Tiago e André, Ezequiel Ramin, Oscar Romero, Martin L. King, Padre Josimo, Margarida Alves, Irmã Dorothy... Tornei-me seguidor de Jesus, andarilho do Evangelho. Tornei-me missionário, peregrino como Jesus. Aí fui com Barnabé e Paulo: “A Palavra de Deus, entretanto, crescia e se multiplicava. Barnabé e Saulo terminaram seu serviço em favor de Jerusalém, e voltaram, levando consigo João, também chamado Marcos” (Atos 12,24-25).
Com Maria, minha mãe, aprendi muita coisa. Lá era a casa da Palavra e da Comunidade, a Casa do Evangelho. Lá eu ouvi, conheci o Evangelho, lá conheci a causa de Jesus e "fiquei seduzido". Sentia uma música no meu peito: "Me chamaste para caminhar na vida contigo! Decidi para sempre seguir-te e não voltar atrás!" Essa música entrou no meu coração e jamais saiu: mesmo que às vezes, eu não fui até o fim. Cansei. Renunciei uma vez a trabalhar na missão Fraquejei, parei. (Atos 13,13. Cf. 15,36-39). Refleti, porém, e voltei sobre os meus passos. Retomei o rumo, a garra e a coragem.

Contador de Histórias
Decidi continuar contando histórias, como os outros missionários e missionárias que iam evangelizando: narrando a História de Jesus pelo mundo afora! Contamos essa história para crianças e idosos. Ficavam com os olhos fixos na gente. Pediam para contar de novo e ninguém cansava de ouvir falar do Amigo que mudou nossa vida. Pediam até para nós deixar um cartão. Queriam conservar aquelas histórias de vida. Não queriam esquecer o Evangelho, aquela Boa Notícia do Reino. Escrevam, por favor! E começamos a escrever. Todo mundo foi deixando pequenos cartões com algumas palavras de Jesus ou histórias fáceis de lembrar e contar. Até que um dia...

Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus
 Um dia, sonhei em escrever um livro sobre aquela Boa Notícia de Jesus que as comunidades viviam e testemunhavam. - Que título dar ao livro? - O título não me veio logo na cabeça. Pensei e matutei. Por fim chegou: "Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus".


Eu queria era refletir a Boa Notícia de Jesus, Ungido de Deus, Filho de Deus! Esse ia ser o título da obra. Era como o resumo de tudo o que queria transmitir. Foi uma alegria tão grande partilhar com as comunidades a experiência libertadora de Jesus que eu até me esqueci de assinar! De fato, o Evangelho não é meu! É das comunidades! O pessoal gostou tanto do jeito como contei a história que, depois, deram também o título de "Evangelho" a outros livros parecidos e que hoje conhecemos como os "Evangelhos".
Falar no nome de Jesus e do Evangelho não cansava. Era uma fonte de alegria lembrar o que as comunidades já sabiam e tentavam viver. Por isso não era difícil escrever, mandar uma cartilha para as comunidades. As comunidades já sabiam muitas coisas. Já tinham recebido instruções para o Batismo, se reuniam nas casas, partilhavam o pão e a palavra, o serviço e a perseguição. Não faltavam dificuldades e desafios. Lá tinha também grupos de jovens engajados, casais missionários que nem Priscila e Áquila, aquele casal de missionários que deu uma lição ao eloquente Apolo (At 18,24-26).
E hoje, é uma alegria ver que há animadores, missionários e missionárias, que vivem e proclamam com tanta coragem o Evangelho de Jesus que visitam cada semana as famílias, lutam pela justiça e pela vida, denunciando injustiças e corrupções. É uma alegria ver comunidades lendo o Evangelho que escrevi, e que ajudam os jovens e as crianças a reconhecer Jesus como Amigo, Messias, Filho Amado de Deus!

Tente você também: criança, jovem, animador, comunidade, agente de pastoral ler essa memória bonita que recebemos e transmitimos com palavras, gestos e com nosso testemunho comunitário. Leia e refaça essa experiência de vida que tantas comunidades já experimentaram. Leia um minuto, todo dia, o Evangelho de Marcos. Leia pessoalmente, em grupo ou em comunidade, e seus pés vão caminhar ligeiros nas pegadas de Jesus e vão comunicar o que não dá para guardar num cofre de ouro ou numa prateleira pegando poeira! Temos uma mina de diamantes ao nosso alcance: leia, garimpe e curta a Boa Notícia do Evangelho para todos, começando pelos pequenos, pobres e excluídos. Essa foi a prioridade de Jesus, caminho para ser seguido pelos evangelizadores que hoje querem tocar o coração das pessoas, transformar o mundo anunciando e levando vida, alegria e esperança.

Justino Martínez Pérez – Missionário Comboniano

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

MUTIRÃO PELA VIDA, NOVO JEITO DE LER A BÍBLIA - 3

BÍBLIA: TODO UM MAR PARA SURFAR
É bom escutar e ver como as pessoas leem a Bíblia. Descobre-se tanta coisa bonita! Por isso a partir daqui convido você que está lendo estas páginas a partilhar a sua leitura e vivência da Palavra de Deus. Diga onde você encontra água para a sua sede, e o seu modo de atingi-la. Partilhe textos-manancial onde você frequenta com carinho e descobre neles vida, alegria e esperança.
Pode pensar que são pequenas coisas e que a ninguém interessa. Tente escrever dez ou quinze linhas e envie. Verá que maravilha está acontecendo no meio de nós. Jesus disse que a luz não era para ficar escondida, e que a Boa Notícia do Reino de Deus era e é para ser proclamada sobre os telhados para que chegue até as periferias existenciais do coração humano. 
Vamos fazer, então, um grande mutirão pela Vida e a Justiça, para nos ajudarmos a crescer no serviço aos pobres, na comunidade, no diálogo, na missão, na luta pela vida, pela justiça e pela paz. 
Surfista do Evangelho 
Neste ano litúrgico (Ano A) que acaba de concluir, o Evangelho de Mateus foi a minha praia. Por falar em praia, eu gosto é da praia de Piatã (Salvador/ BA). Isso é praia! Já viu segunda-feira? Piatã é uma delícia. Vai encontrar pouco pessoal, caminhando, jogando bola, sentado, deitado, criança brincando de gente grande, homem e mulher feito criança, construindo castelos na areia. 
Eu gosto é de praia, como gosto dos Evangelhos. Essa é uma de minhas praias favoritas, junto com a praia dos Profetas e Apocalipse. O Evangelho de Lucas: que coisa linda! E o de Marcos, nem me fale, pois vai nos acompanhar durante este Ano do Ciclo B (2018). Mas eu decidi que, por enquanto, a minha onda continua sendo Mateus. Existem mil motivos para frequentar essa praia. Alguns consideram esse evangelho como o mais eclesial: fala do jeito de ser comunidade, de viver, de celebrar, de ser seguidores e seguidoras de Jesus, de oferecer o perdão se for o caso. 
Traz também ar de pão cozido, de trabalhadores cansados de esperar na praça, de mulheres fadigadas, de multidões de pobres, das provações de Jesus que outros chamam de tentações, de sonhos, de tanta coisa. Há muita sabedoria e mensagem nesse baú e as pessoas lúcidas e sábias saber tirar coisas antigas e novas para dar vida e gerar alegria e esperança, a começar pelos pequenos e excluídos, enfermos e esquecidos.
– Eu já ouvi falar nisso. Que tem muito discurso: cinco discursos! Que esse evangelho quer mesmo é ensinar, mas sobretudo ensinar a viver como Jesus e praticar tudo o que ele nos mandou (Mt 28,18-20). 
– É uma boa notícia para os pobres e pequenos. Eu acho esse Evangelho lindo, lindo, lindo. Lindo mesmo! 
– E de Jesus de Nazaré também fala um bocado! Claro, nesse tecido tem fios e fios de muitas cores e tamanhos. E Jesus Cristo é um fio de um rio de grande correnteza no Evangelho de Mateus. Jesus, a comunidade e a missão. Três fios entrelaçados, de grande consistência e horizontes. 
- Eu participei de uma palestra que falaram somente de cristologia, de eclesiologia e missiologia.
-  Pois é. Exatamente, essas são palavras mais técnicas para significar a mesma mensagem.  
Tudo isso está lá e muito mais. Tem tanto segredo nessa mata, aliás, nessa praia!
Você acha que conhece, porque passou por lá várias vezes, e coisíssima nenhuma. As pegadas que você deixou, o dia seguinte não encontra mais. Caminha e caminha e a praia é sempre nova. O céu, diferente. O mar, que Jesus frequenta para chamar os seus discípulos, aparece como mais alegre e revitalizador. Faz sonhar acordado! Praia coisa linda que só! Praia, dom de Deus! Evangelho de Mateus, presente de Deus. Memória de Jesus e das comunidades. Memória e sonho da missão dos pobres! 
– Ué! Os pobres têm missão? 
Só faltava essa! Que os pobres já não tivessem nem missão. Não têm casa, nem pão, nem terra, nem salário. Tiraram deles a cultura, quase que a vida lhes arrancaram e, agora, querem tirar também a missão? Mas não vão poder tirar o que Deus lhes confiou: a eles pertence o Reino e a Missão! 

Surfista? Sim
Venha a curtir essa praia comigo. Não me entenda mal. Não é que eu seja doente por praia. Nasci no interior, num povoado de sessenta famílias. Mas meus olhos se acostumaram a estas praias brasileiras e decidi ser surfista. 
– Mas você, logo você que mal sabe nadar. 
– Pois é, mal sei nadar, mas por isso é que não sou do mar. O mar me respeita, e eu tenho respeito por ele. Respeito e medo. Mas eu gosto é de surfar. Minha prancha é de boa qualidade e com o passar do tempo a confiança aumenta. Tenho maior intimidade. Somos mais amigos. Dentro do possível, porque os mares, como a vida e o evangelho, guardam muitos segredos! 
– E o Evangelho de Mateus também. Dá para surfar o ano todo: uma delícia de mar! Quanto você mais avança maior é a alegria de nadar, de surfar, de brincar com ondas. Você e a prancha e a onda viram uma coisa só, junto com o vento e o sol. Um milagre em movimento!


Quando você quer reter a onda, aí não dá. A onda chega na praia e já era! Bateu no chão! Tem que se deixar levar pelas ondas, e driblar, e brincar na gratuidade do vento que vem e também para quando quer.
Algo assim é o Evangelho de Mateus. É coisa linda para as crianças: podem brincar na praia e sentir a presença do Amigo que fala com tanta paixão das crianças que até os adultos querem virar crianças para entrar no Reino de Deus. E aí o sonho de Jesus se realiza. E Jesus grita de alegria vendo tanta coisa linda: Eu te louvo, Pai, porque tem tanta criança na praia, curtindo a partilha, a solidariedade, e essa presença do Abbá (papai, painho/ paizinho: Mc14,36; Rm 8,15; Gl 4,6), que brinca com eles o dia todo (Mt 11,25-27).
E tem surfista que joga e descobre o rosto de Cristo. E se adentra descobrindo outras praias e outros mares e percebe e festeja a missão sem fronteiras das comunidades. E fica à mercê do Vento, por caminhos novos (Atos 1, 5-8). Sempre em movimento, guiado pelo Vento! Sob a proteção da mão de Deus (Salmo 121 /120) que acompanha nossas entradas e saídas, que segura a prancha e até mesmo você, quando o cansaço chega e pensa em desistir.
Entrar, entrar no mar como o surfista. Quantas vezes? Só o mar e Deus é que sabem! Entrar e voltar... Começar e recomeçar. O surfista bom não conta as vezes que entra e sai: simplesmente curte um dia e outro, deixando-se levar pela beleza do mar e a alegria do vento. Comece a ler, ou reler, pois, o Evangelho de Mateus como surfista. Entre nele uma, duas, sete vezes! Cuidado, você vai acabar se apaixonando e vai querer visitar e revisitar frequentemente, porque as pérolas que esconde o Evangelho segundo Mateus, como os outros três, somente são mostradas aos poucos, em cada nova leitura, sempre nova, sempre viva, sempre surpreendente! Quando se tem familiaridade e intimidade com o texto, com o contexto, a profundidade e riqueza do Evangelho se torna inesgotável.
– Mas, por onde começar a ler?
– Geralmente, pelo começo. Sem dúvida, você lembra aquela história Aventuras de Alice no País das maravilhas que conta assim: “O Coelhinho Branco colocou os óculos e perguntou: - Com licença de Vossa Majestade, devo começar por onde? E o Rei, com muita calma e com ar muito grave lhe disse: Comece pelo começo e vá até o fim. Então pare!”. Agora você já sabe por onde começar a ler qualquer livro da Bíblia: pelo começo! Agora bem, você vai se deliciar se começar a ler o Evangelho de Mateus pelo fim. Faça a prova uma vez! Leia o capítulo 28 de Mateus, inteirinho e devagarinho... com tudo aquilo que já sabe de Jesus. Você já sabe muita coisa de Jesus. De hoje que está na comunidade! Acolha a novidade que a cada passo vai descobrir. As surpresas vão chegar com certeza, e Deus vai lhe inspirar o resto para continuar surfando. Outra onda, de repente, vai devolvê-lo à praia..., mas continue surfando, surfando, surfando!
- E, agora José?
- Pois de novo, como faz todo surfista, retome a prancha, entre mais uma vez nesse mar do Evangelho de Mateus com a alegria dos Magos ao ver a Estrela (Mateus 2). Entre e lembre o que o Rei disse ao Coelhinho Branco: começa pelo começo e vá até o fim! A palavra de ordem é começar, começar tudo na Galileia, por onde Jesus começou. Se você quer ser um pouco criativo, pula os dois primeiros capítulos e pode ler a partir do capítulo 3 em diante: todo dia, devagar e sempre. A terceira vez, vai fazer a caminhada pelo evangelho todo: desde o começo, agora sim, sem pressas. O Capítulo primeiro vai guiar você ao segundo e ao terceiro e o quarto, onde Jesus aparece chamando e assim, você pode caminhar e seguir Jesus, junto com os discípulos e discípulas de ontem e de hoje, anotando no seu caderninho tudo o que você vai descobrindo, tudo aquilo que surpreende você e não esqueça de registrar, ao mesmo tempo, as dúvidas e perguntas que apareçam. Você vai descobrir que as trevas do caminho vão desaparecendo quando Jesus de Nazaret entra na história de cada ser humano: Ele é luz na história de uns pescadores como Pedro e André, de João e Tiago; na história dos pobres, dos excluídos, dos enfermos (Mt 4,12-25) que, sem muitos convites, aparecem ouvindo o Sermão do Monte, iniciando com essa página maravilhosa das Bem-aventuranças no capítulo cinco e chegando até o final do capítulo sete! O Sermão do Monte merece ser lido uma vez todo seguido: capítulo cinco, seis e sete! Claro, esqueça suas pressas. Ler a Bíblia ou os Evangelhos não forma parte da “pedalada” anual. Leia, pois, todo o Sermão do Monte, saboreando cada palavra, pois neste momento, Jesus está falando diretamente para você ou para o seu grupo, para sua comunidade, e tem uma mensagem linda para te dizer e propor. Veja como foca e salienta a necessidade de tomar uma atitude, de fazer uma opção radical pelo Reino e sua justiça (Mt 6,33). Sinta, pois, esse chamado, esse convite, muito pessoalmente, e veja o estilo tão característico de Jesus de dizer as coisas. Não é um mandamento, não é um dever de casa, não é um dever de sentar. É, sabe? É Evangelho! Boa Notícia que toca o coração, mesmo que, às vezes, você possa ter a sensação de ser uma grande provocação para seu estilo de vida. Jesus invita a caminhar, a segui-lo, a ir para a frente, sempre em saída, sempre a caminho, apesar dos pedregulhos da caminhada (9,35-10,42), sendo comunidades que acolhem os pequenos e os últimos (Mt 25,31-46) e se perguntando mil coisas de como seguir Jesus pelas ruas da acolhida e do perdão incondicional (Mt 18). 
De repente, não se assuste nem se incomode, se você nota que algumas perguntas são tão parecidas com as nossas: "Quem é o maior no Reino de Deus? Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna? Mestre, ordena que estes dois filhos meus se sentem no teu Reino, um a tua direita e o outro a tua esquerda. Quantas vezes devo perdoar?" Mas, outras são tão diferentes, tão originais. Só podem ser nossas e pensamos que são de agora: “será que eu vou vender tudo, dar aos pobres para seguir Jesus” ou “será que eu vou poder perdoar como fala o Evangelho? Desse jeito radical, incondicional, de coração?” Aqui é bom fazer memória de pessoas que, hoje, no nosso mundo, tiveram a coragem de seguir Jesus em radicalidade ou de “perdoar incondicionalmente”, mesmo depois de ver “sangrar o próprio coração”. Teremos oportunidade de partilhar essas e outras experiências que o Evangelho vai provocando nas pessoas de qualquer latitude do planeta. Veja, no entanto, qual é a resposta que cada interlocutor dá e qual a proposta sempre nova de Jesus. Uma coisa é saber, outra é viver e praticar. Jesus não fica satisfeito com boas ou bonitas palavras (Mt 7,15-29), mas espera de cada pessoa obras, testemunho, compromisso, frutos. Frutos! (João 15; EG 24).


Ele não fala de resultado, nem de êxito, nem de sucesso! Isso não forma parte da lógica de Jesus, da Boa Notícia do Reino de Deus! Não esqueça isso. A caminhada seguindo Jesus de Nazaret acaba no Gólgota (Mt 27,33; Mc 15,22; Jo 19,17) ou nalguma estrada escondida do Nordeste, de Rondônia ou de qualquer outra região brasileira ou do mundo, onde o testemunho, o convívio diário e a profecia marcam presença longe dos holofotes de turno.
E oferecer o perdão de coração. Isso é tão difícil, mas para Deus nada é impossível. E além disso: O perdão e o amor renovam continuamente o coração e a comunidade. Trazem a vida nova de Deus, uma Boa Notícia, Evangelho para nós!

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Continue surfando! Vai encontrar muita novidade vivendo a palavra do Evangelho no horizonte dos mares todos, dos oceanos todos debaixo do céu. Ele, o Senhor da missão, envia discípulos, evangelizadores e acompanha o trabalho: "Ele é Emanuel – Deus conosco" (Mt 1,23). Onde duas ou três pessoas se reúnem no Seu nome, lá, seja numa casa ou num quarto de hospital, Ele se faz presente, está no meio de nós quando rezamos em família ou com uma pessoa que visitamos (Mt 18,20).


E coisa ainda mais linda, Ele está surfando ao nosso lado na praia do dia a dia, sem cansar,  presente, ao lado, mesmo que nossos olhos não sejam capazes de lhe reconhecer (Lc 24,13-35), e acompanha cada dia os desafios e avatares de nossas entradas e saídas, de nossas visitas em missão até o fim dos tempos! (Mt 28,16-20).


No horizonte onde o mar se junta com o céu, lá é uma delícia, é o Reino de Deus acontecendo. Venha curtir essa praia e fazer discípulos e discípulas de todas as nações. Venha realizar sua missão e se alegrar neste Kairos, neste tempo oportuno de alegria que nos toca viver e apostar nele, neste ano de graça do Senhor. Venha surfar! Continue surfando pelo Evangelho afora, pelo mundo afora!


 Justino Martínez Pérez – Missionário Comboniano
justinomarpe@gmail.com



quarta-feira, 22 de novembro de 2017

 MUTIRÃO PELA VIDA, NOVO JEITO DE LER A BÍBLIA - 2

FERMENTO NO BOLO!
BÍBLIA NA VIDA!
Continuamos cavando, garimpando e aprofundando a Bíblia: o nosso livro de cabeceira! Quatro imagens vão nos servir de guias para entender melhor a Palavra de Deus. Bíblia: Álbum de família, cidade, "raios-X" e fermento no bolo.


1.      Bíblia: álbum de família, álbum do povoA Bíblia parece um álbum de fotografias guardado em caixas, sem data, sem ordem, sem assinatura..., uma desordem organizada! Uma coisa interessante! Até as crianças se divertem folheando esse álbum. Aquela "desordem organizada", aparentemente como uma colcha de retalhos, nos revela um rosto amigo, o Deus que ama a vida (Dt 34,10; Sb 11,26), o rosto de Deus que caminha conosco.

E assim, olhando tudo isso, muitas gerações de crianças e jovens, de famílias e comunidades aprendem e se alegram ao descobrirem: quem são e de onde vieram e, coisa ainda mais linda, para onde vão?  E qual a missão que lhes é confiada. Para isso o álbum de fotografias é muito importante. Todos sabem reconhecer acontecimentos familiares, onde a gente tomou parte ou ainda participa.

Na leitura da Bíblia descobrimos a nossa identidade, as nossas raízes culturas-sociais-religiosas e, sobretudo, a nossa missão, como povo e como pessoas. E em tudo isso, sentimo-nos da mesma família de Abraão e Sara, de Moisés e Miriam, dos profetas e profetisas... Somos um povo a caminho, com uma missão a cumprir e podemos cantar com força: "Moisés hoje é a gente quando enfrenta a opressão".

Por tudo isso, a Bíblia é muito importante. Apresenta para nós, no meio de situações difíceis e conflitivas, mil fotografias do Deus discreto e fiel, misericordioso e libertador, Javé (Ex 34,6-7). 
2. A cidade da Bíblia 
Como caminhar pela cidade da Bíblia sem nos perder? Conhecermos essa cidade vale a pena! Podemos conhecer como turista de passagem ou como morador que trabalha e se preocupa pela sua cidade e fica bem à vontade.

Quando visitamos uma cidade pela primeira vez ter um mapa ou um guia ajuda bastante. É mais fácil saber onde fica o Centro Histórico, o Pelourinho, o Mercado Modelo, para quem quer visitar a cidade de Salvador, ou, para quem chega a Fortaleza orientar-se para chegar à praia Iracema, ao Dragão do Mar ou à Praça do Ferreira: onde se podem pegar os ônibus, como chegar e voltar. Nesse passeio podemos ver casas antigas que ficam ao lado de prédios modernos e ninguém confunde as duas coisas. Também na Bíblia encontramos textos bem antigos em arcabouços novos. Não podemos confundi-los!

Conhecer a história dessa cidade. Os monumentos históricos nos falam muito mais quando conhecemos as pessoas que participaram dessa história. Quando sabemos que pessoas foram fundadoras, por que surgiu, os momentos marcantes da vida do povo, sua organização, suas lutas e resistências, seu projeto de vida e cidadania.



Descobrir nessa Cidade o Rosto do Deus da Vida. Não é fácil perceber Deus atuando na vida da gente. Como Deus estaria no meio de nós, nesses ônibus superlotados? Ou naquele corre-corre estressante do dia a dia? Será que Deus está nas nossas cidades? Custa crer! Ao mesmo tempo, na cidade, tudo tem um sabor diferente quando encontramos algum rosto familiar. São muitos os desafios das culturas urbanas como salienta o Papa Francisco, mas ele mesmo nos convida a estar presentes nas cidades com um olhar contemplativo novo:

A nova Jerusalém, a cidade santa (cf. Ap 21, 2-4), é a meta para onde peregrina toda a humanidade. É interessante que a revelação nos diga que a plenitude da humanidade e da história se realiza numa cidade. Precisamos identificar a cidade a partir dum olhar contemplativo, isto é, um olhar de fé que descubra Deus que habita nas suas casas, nas suas ruas, nas suas praças. A presença de Deus acompanha a busca sincera que indivíduos e grupos efetuam para encontrar apoio e sentido para a sua vida. Ele vive entre os citadinos promovendo a solidariedade, a fraternidade, o desejo de bem, de verdade, de justiça. Esta presença não precisa de ser criada, mas descoberta, desvendada. Deus não Se esconde de quantos O buscam com coração sincero, ainda que o façam tateando, de maneira imprecisa e incerta!” (EG 71).

Algo assim passa com a Bíblia. Podemos senti-la como coisa do passado, como pouco prática para uma "cidade" moderna e pensar que não se encontraria a vontade. Mas a Bíblia, mesmo tendo muito anos de história, é diferente. É como o vinho bom. Mais tempo passa, melhor é! Quem entende que o diga!

Talvez tenhamos que aguçar o nosso olhar para ver onde e como Deus está presente hoje. Deus, onde estás? Não são poucas as pessoas que se perguntam, especialmente em momentos de dificuldade ou prova. Para esse novo olhar sobre o sentido da vida, a Bíblia nos oferece muitas dicas, aliás, "é colírio para os olhos", como comentava Mário de Colina Azul, ao terminar um curso sobre Apocalipse.

3. A Bíblia: “raios- X”. A Bíblia nos lê!

Nós lemos a Bíblia e, ao mesmo tempo, a Bíblia nos lê! A Bíblia não somente nos oferece "fotografias" da nossa realidade, mas também nos dá uma "radiografia" do nosso mundo. Ela é critério de discernimento: mostra-nos o rumo a seguir, o jeito de viver e esperar. Ela denuncia os medos e as injustiças e anuncia boas notícias para os pobres e pequenos. Numa palavra, Ela é uma lamparina na caminhada, uma lanterna nas noites da vida: Luz, Força, Alegria e Esperança para a caminhada (Salmo 119,105).

A Bíblia, porém, deve estar ligada à Vida. Sozinha, isolada da vida e dos problemas não dá. A rede precisa de dois pregos para se sustentar: o prego da Vida e o prego da Bíblia. E a comunidade balançando no meio dessa dupla tensão: Vida-Bíblia.

4. Fermento no bolo! Bíblia na vida!

Na travessia tudo se clareia; descobrimos o sentido da Bíblia. A presença discreta e terna de Deus ilumina o túnel dos conflitos, traz vida, alegria e esperança. É uma lamparina na noite. É sal na feijoada.

Na vida há de tudo: pessoas com pressão alta de Bíblia e pressão baixa de Vida. Outras com pressão baixa de Bíblia e pressão alta de Vida. Cada pessoa deve ver qual é a dose exata! A Bíblia, porém, é e deve ser fermento no bolo da Vida.

Quero contar uma história que aconteceu em Pau da Lima na periferia de Salvador, com um amigo da gente.

Era um sábado pela tarde. O curso de Bíblia estava para começar. Pe. João estava preparando um bolo de cenoura. Arrumou tudo direitinho. Leu a receita, misturou os ingredientes e colocou a forma no forno.

Fiquei sonhando a tarde toda com aquele bolo! Acabei o curso bíblico e fui visitar João. O bolo devia estar no ponto! Descendo a encosta chegava um cheirinho gostoso de fazer água na boca. E ai saiu aquele bolo! Cheirinho bom, danado de bom! Os olhos não aguentavam mais. "Favor, traga uma faca!" E ai uma surpresa: o bolo estava..., duro que só! Não dava nem para cortar!

"Aconteceu o quê, João?", perguntei. "Não sei, não!", disse João. "Coloquei todos os ingredientes como estava na receita. Mas parece que não deu certo". "E você colocou tudo mesmo? Colocou também fermento?", quis saber. "Fermento? Bom, fermento, na verdade... não. O fermento acabou!" concluiu ele.

As crianças das famílias vizinhas chegaram como outras vezes..., e o bolo ficou e ficou por dias a fio. E ficou, também na memória, como testemunho eterno: bolo sem fermento, vira cimento!
No duro da Vida, a Bíblia traz luz, força e energia. Experimente, com calma e alegria, um minuto todo dia! Anote todas as suas descobertas e não esqueça de escrever suas dúvidas e perguntas. O nosso caderno vai se tornar o nosso melhor amigo, um tesouro espiritual-pastoral, e vai nos lembrar do que realmente vale a pena FOCAR e ajudar-nos-á para trilhar novos caminhos no coração da história, com lucidez profética, pé firme e esperança forte.

Justino Martínez Pérez – Missionário Comboniano
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