quarta-feira, 22 de novembro de 2017

 MUTIRÃO PELA VIDA, NOVO JEITO DE LER A BÍBLIA - 2

FERMENTO NO BOLO!
BÍBLIA NA VIDA!
Continuamos cavando, garimpando e aprofundando a Bíblia: o nosso livro de cabeceira! Quatro imagens vão nos servir de guias para entender melhor a Palavra de Deus. Bíblia: Álbum de família, cidade, "raios-X" e fermento no bolo.


1.      Bíblia: álbum de família, álbum do povoA Bíblia parece um álbum de fotografias guardado em caixas, sem data, sem ordem, sem assinatura..., uma desordem organizada! Uma coisa interessante! Até as crianças se divertem folheando esse álbum. Aquela "desordem organizada", aparentemente como uma colcha de retalhos, nos revela um rosto amigo, o Deus que ama a vida (Dt 34,10; Sb 11,26), o rosto de Deus que caminha conosco.

E assim, olhando tudo isso, muitas gerações de crianças e jovens, de famílias e comunidades aprendem e se alegram ao descobrirem: quem são e de onde vieram e, coisa ainda mais linda, para onde vão?  E qual a missão que lhes é confiada. Para isso o álbum de fotografias é muito importante. Todos sabem reconhecer acontecimentos familiares, onde a gente tomou parte ou ainda participa.

Na leitura da Bíblia descobrimos a nossa identidade, as nossas raízes culturas-sociais-religiosas e, sobretudo, a nossa missão, como povo e como pessoas. E em tudo isso, sentimo-nos da mesma família de Abraão e Sara, de Moisés e Miriam, dos profetas e profetisas... Somos um povo a caminho, com uma missão a cumprir e podemos cantar com força: "Moisés hoje é a gente quando enfrenta a opressão".

Por tudo isso, a Bíblia é muito importante. Apresenta para nós, no meio de situações difíceis e conflitivas, mil fotografias do Deus discreto e fiel, misericordioso e libertador, Javé (Ex 34,6-7). 
2. A cidade da Bíblia 
Como caminhar pela cidade da Bíblia sem nos perder? Conhecermos essa cidade vale a pena! Podemos conhecer como turista de passagem ou como morador que trabalha e se preocupa pela sua cidade e fica bem à vontade.

Quando visitamos uma cidade pela primeira vez ter um mapa ou um guia ajuda bastante. É mais fácil saber onde fica o Centro Histórico, o Pelourinho, o Mercado Modelo, para quem quer visitar a cidade de Salvador, ou, para quem chega a Fortaleza orientar-se para chegar à praia Iracema, ao Dragão do Mar ou à Praça do Ferreira: onde se podem pegar os ônibus, como chegar e voltar. Nesse passeio podemos ver casas antigas que ficam ao lado de prédios modernos e ninguém confunde as duas coisas. Também na Bíblia encontramos textos bem antigos em arcabouços novos. Não podemos confundi-los!

Conhecer a história dessa cidade. Os monumentos históricos nos falam muito mais quando conhecemos as pessoas que participaram dessa história. Quando sabemos que pessoas foram fundadoras, por que surgiu, os momentos marcantes da vida do povo, sua organização, suas lutas e resistências, seu projeto de vida e cidadania.



Descobrir nessa Cidade o Rosto do Deus da Vida. Não é fácil perceber Deus atuando na vida da gente. Como Deus estaria no meio de nós, nesses ônibus superlotados? Ou naquele corre-corre estressante do dia a dia? Será que Deus está nas nossas cidades? Custa crer! Ao mesmo tempo, na cidade, tudo tem um sabor diferente quando encontramos algum rosto familiar. São muitos os desafios das culturas urbanas como salienta o Papa Francisco, mas ele mesmo nos convida a estar presentes nas cidades com um olhar contemplativo novo:

A nova Jerusalém, a cidade santa (cf. Ap 21, 2-4), é a meta para onde peregrina toda a humanidade. É interessante que a revelação nos diga que a plenitude da humanidade e da história se realiza numa cidade. Precisamos identificar a cidade a partir dum olhar contemplativo, isto é, um olhar de fé que descubra Deus que habita nas suas casas, nas suas ruas, nas suas praças. A presença de Deus acompanha a busca sincera que indivíduos e grupos efetuam para encontrar apoio e sentido para a sua vida. Ele vive entre os citadinos promovendo a solidariedade, a fraternidade, o desejo de bem, de verdade, de justiça. Esta presença não precisa de ser criada, mas descoberta, desvendada. Deus não Se esconde de quantos O buscam com coração sincero, ainda que o façam tateando, de maneira imprecisa e incerta!” (EG 71).

Algo assim passa com a Bíblia. Podemos senti-la como coisa do passado, como pouco prática para uma "cidade" moderna e pensar que não se encontraria a vontade. Mas a Bíblia, mesmo tendo muito anos de história, é diferente. É como o vinho bom. Mais tempo passa, melhor é! Quem entende que o diga!

Talvez tenhamos que aguçar o nosso olhar para ver onde e como Deus está presente hoje. Deus, onde estás? Não são poucas as pessoas que se perguntam, especialmente em momentos de dificuldade ou prova. Para esse novo olhar sobre o sentido da vida, a Bíblia nos oferece muitas dicas, aliás, "é colírio para os olhos", como comentava Mário de Colina Azul, ao terminar um curso sobre Apocalipse.

3. A Bíblia: “raios- X”. A Bíblia nos lê!

Nós lemos a Bíblia e, ao mesmo tempo, a Bíblia nos lê! A Bíblia não somente nos oferece "fotografias" da nossa realidade, mas também nos dá uma "radiografia" do nosso mundo. Ela é critério de discernimento: mostra-nos o rumo a seguir, o jeito de viver e esperar. Ela denuncia os medos e as injustiças e anuncia boas notícias para os pobres e pequenos. Numa palavra, Ela é uma lamparina na caminhada, uma lanterna nas noites da vida: Luz, Força, Alegria e Esperança para a caminhada (Salmo 119,105).

A Bíblia, porém, deve estar ligada à Vida. Sozinha, isolada da vida e dos problemas não dá. A rede precisa de dois pregos para se sustentar: o prego da Vida e o prego da Bíblia. E a comunidade balançando no meio dessa dupla tensão: Vida-Bíblia.

4. Fermento no bolo! Bíblia na vida!

Na travessia tudo se clareia; descobrimos o sentido da Bíblia. A presença discreta e terna de Deus ilumina o túnel dos conflitos, traz vida, alegria e esperança. É uma lamparina na noite. É sal na feijoada.

Na vida há de tudo: pessoas com pressão alta de Bíblia e pressão baixa de Vida. Outras com pressão baixa de Bíblia e pressão alta de Vida. Cada pessoa deve ver qual é a dose exata! A Bíblia, porém, é e deve ser fermento no bolo da Vida.

Quero contar uma história que aconteceu em Pau da Lima na periferia de Salvador, com um amigo da gente.

Era um sábado pela tarde. O curso de Bíblia estava para começar. Pe. João estava preparando um bolo de cenoura. Arrumou tudo direitinho. Leu a receita, misturou os ingredientes e colocou a forma no forno.

Fiquei sonhando a tarde toda com aquele bolo! Acabei o curso bíblico e fui visitar João. O bolo devia estar no ponto! Descendo a encosta chegava um cheirinho gostoso de fazer água na boca. E ai saiu aquele bolo! Cheirinho bom, danado de bom! Os olhos não aguentavam mais. "Favor, traga uma faca!" E ai uma surpresa: o bolo estava..., duro que só! Não dava nem para cortar!

"Aconteceu o quê, João?", perguntei. "Não sei, não!", disse João. "Coloquei todos os ingredientes como estava na receita. Mas parece que não deu certo". "E você colocou tudo mesmo? Colocou também fermento?", quis saber. "Fermento? Bom, fermento, na verdade... não. O fermento acabou!" concluiu ele.

As crianças das famílias vizinhas chegaram como outras vezes..., e o bolo ficou e ficou por dias a fio. E ficou, também na memória, como testemunho eterno: bolo sem fermento, vira cimento!
No duro da Vida, a Bíblia traz luz, força e energia. Experimente, com calma e alegria, um minuto todo dia! Anote todas as suas descobertas e não esqueça de escrever suas dúvidas e perguntas. O nosso caderno vai se tornar o nosso melhor amigo, um tesouro espiritual-pastoral, e vai nos lembrar do que realmente vale a pena FOCAR e ajudar-nos-á para trilhar novos caminhos no coração da história, com lucidez profética, pé firme e esperança forte.

Justino Martínez Pérez – Missionário Comboniano
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