DISCIPULOS DO REINO DE DEUS
E nós, topamos essa parada?
Mt 13, 44-52
Onde estão as chaves?
De pequenos jugávamos a um jogo. Chamava-se:
onde estão as chaves? O jogo tinha o seu encanto, pois alguém devia
procura-las, mas estavam no fundo do mar! Para enfrentar essa parada, o
indicado devia receber um nome, um apelido significativo que o grupo, a turno,
ia dando a cada participante. Esse nome simbólico ajudava para enfrentar semelhante
odisseia. Uma música entoava assim: onde estão os profetas que em outros tempos
nos deram as esperanças e forças para amar? Uma estrofe salientava, porém: nos ensinaram as normas para saber suportar-nos, mas nunca
nos ensinaram a amar. Nesta linha, o Papa Francisco na Alegria
do Evangelho salienta que “toda palavra na Escritura é primeiro dom antes que exigência” (EG 142). O livro do
Deuteronômio salienta também que o tesouro da Palavra de Deus,
está perto de cada um de nós e não há como se desculpar. Este mandamento que hoje lhe ordeno não é
muito difícil, nem está fora do seu alcance. Ele não está no céu, para que você
fique perguntando: ‘Quem subirá por nós até o céu para trazê-lo a nós, a fim de
que possamos ouvi-lo e colocá-lo em prática? ’ Também não está no além-mar,
para que você fique perguntando: ‘Quem atravessará por nós o mar, para trazer
esse mandamento a nós, a fim de que possamos ouvi-lo e colocá-lo em prática? ’
Sim, essa palavra está ao seu alcance: está na sua boca e no seu coração, para
que você a coloque em prática. A cada pessoa, pois, lhe toca escolher entre a
vida e a morte. Veja: hoje eu estou colocando diante de você a vida e a
felicidade, a morte e a desgraça (Dt 30,11-15).
O Reino dos céus se parece a um tesouro
Jesus intenta mostrar a seus discípulos o projeto
de Deus, pelo qual vale a pena arriscar tudo, vender tudo, para comprar esse
tesouro. Esse tesouro não é para os primeiros cem que entram e compram. Esse tesouro
está ao alcance de todo ser humano. O Reino não é para quatro sábios, expertos
em negócios ou em pérolas finas. Jesus o compara com um agricultor ou camponês
que, cultivando seu campo, de improviso, descobre algo inaudito: Um tesouro! Olha
aí que descobrimento! Jesus, no evangelho, fala do Reino como de um descobrimento.
Descobrimento de um tesouro escondido no campo.
Descobrimento de uma pérola de grande valor. Se diria que é um
golpe de fortuna. No Evangelho de João temos uma página maravilhosa, que costuma
passar sem pena nem glória, mas que merece toda a nossa atenção e consideração.
É única! Encontra-se no primeiro capítulo. Vamos chama-la: Eu também
estava lá! Depois do testemunho de João Batista, se mostra passo
a passo o encontro que os discípulos vão fazendo de Jesus de Nazaret. Por trás das palavras e nas entrelinhas se
nota a alegria daqueles discípulos que se toparam com o Messias. Um desses
anúncios, começa assim: André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que
ouviram as palavras de João e seguiram a Jesus. Ele encontrou primeiro o seu
próprio irmão Simão, e lhe disse em tono triunfal: «Nós encontramos o Messias
(que quer dizer Cristo)!». (Jo 1,40-41). Como se lhe dissesse: Foi algo
estupendo, um encontro surpreendente, uma experiência desconcertante. Agora em diante
pode mudar toda nossa vida. Algo ao qual não estamos acostumados.
Falar de Jesus, do Reino de Dios,
se tem convertido muitas vezes numa carga pesada. Por isso, as pessoas não
querem saber nada sobre isso. Já conhecem essa história. De pequenos frequentaram
um colégio religioso e já escutaram “bastantes sermões” para o resto da vida! É
uma pena que o Evangelho, que é uma boa notícia, que consola, liberta, anima,
dá plenitude, se tenha convertido em um saco pesado do qual é melhor nem saber!
Na caminhada, talvez temos perdido o objetivo
e o que é essencial do Evangelho, insistindo em “pequenas coisas e nos deveres”.
O vinho forte do Evangelho ficou “aguado”, sem força e garra. Aquilo que é o
primeiro dom de Deus para a humanidade toda. É necessário, portanto, dizer,
gritar e proclamar com o Papa Francisco: “A Alegria do Evangelho enche o
coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam
salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do
isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria” (EG 1). Por isso
na sua Exortação afirma: Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis
cristãos a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por
esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos. Não
me cansarei de repetir estas palavras de Bento XVI que nos levam ao
centro do Evangelho: «Ao início do ser
cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um
acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o
rumo decisivo» (EG 7).
O Evangelho, o Reino não é apenas
um acréscimo a tudo aquilo que já possuímos y que queremos reter bem amarrado. O
Reino é como um tesouro, que descoberto, cativa o nosso corazón, enchendo-o de
alegria e loucos por essa descoberta estamos dispostos, a arriscar e vender tudo
para comprar aquele campo. Essa é a lógica do Evangelho, das Parábolas do
Reino, que Jesus conta para despertar o coração de cada discípulo que quer
segui-lo. Seu convite é muito claro:
Portanto, não fiquem preocupados, dizendo: O que vamos comer? O que
vamos beber? O que vamos vestir? Os pagãos é que ficam procurando essas coisas.
O Pai de vocês, que está no céu, sabe que vocês precisam de tudo isso. Pelo
contrário, em primeiro lugar busquem o Reino de Deus e a sua justiça, e Deus
dará a vocês, em acréscimo, todas essas coisas (Mt 6,31-33). Iniciamos com
entusiasmo o seguimento, encantados por sua palavra, por sua autoridade (Mc
1,22.27), por sua coerência «Ninguém jamais falou como esse homem» (Jo 7,46),
por sua misericórdia (Lc 15,1-3).
E desejamos segui-lo dando os
primeiros passos de discípulos. Enquanto iam andando, alguém no caminho disse a
Jesus: «Eu te seguirei para onde quer que fores». Mas Jesus lhe respondeu: «As raposas têm
tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a
cabeça». Jesus disse a outro: «Siga-me», Esse respondeu: «Deixa primeiro que eu
vá sepultar meu pai». Jesus respondeu: «Deixe que os mortos sepultem seus
próprios mortos; mas você, vá anunciar o Reino de Deus». Outro ainda lhe disse:
«Eu te seguirei, Senhor, mas deixa primeiro que eu vá me despedir do pessoal de
minha casa». Mas Jesus lhe respondeu: «Quem põe a mão no arado e olha para
trás, não serve para o Reino de Deus» (Lc 9,56-62; Mt 8,19-22).
El Reino exige
fidelidades essenciais
Escutando as parábolas do tesouro
e da pérola fina, nós ficamos encantamos. Seus valores não deixam ninguém
indiferente. As alegrias desbordantes do achado tornam leve a exigência ou
contrapartida: vender tudo e adquirir o tesouro e a pérola. Valem a pena! Esse
será também o convite para aquele jovem que disse a Jesus: «O que é que ainda
me falta fazer? ». Jesus respondeu: «Se você quer ser perfeito, vá, venda tudo
o que tem, dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois
venha, e siga-me». Agora, esse golpe de sorte exige alguns riscos, renúncias, perdas,
separações. O camponês vai ter que «vender tudo o que tem» para adquirir o
campo. Também o comerciante tem que arriscar «vender tudo» para conseguir
aquela pérola. O tesouro do Reino não se conquista com um golpe de “magia” ou
simplesmente fechando os olhos. De novo a importância de “ter um tesouro” pelo
qual arriscar tudo, até a própria vida. Mas quando ouviu isso, o jovem foi
embora cheio de tristeza, porque era muito rico. Não soube valorar tesouros e
Tesouro! O Reino, nos diz Jesus, exige
lucidez y perseverança. O mesmo Jesus, em outro lugar, chama a atenção para
isso: calcular os custos e se vai dar para chegar ao objetivo. O Reino exige
fidelidades essenciais: O Evangelho, O Reino de Deus, os pobres, os excluídos.
Servir e amar como Jesus nos amou. Carregar cada dia com a própria cruz: seguir
o Crucificado-Ressuscitado pelos caminhos de Emaús, dando alegria e esperanza
(Lc 24,13-35), a milhões de deslocados por causa de guerras, de conflitos, da violência.
Apostar tudo pelo Reino de Deus e sua Justiça vai exigir muitas vezes, caminhar
contracorrente: a corrente do consumismo, da indiferença, e se manter firme
numa caminhada exigente. Quero acabar com uma história que pode nos ajudar a
discernir e ver o quê ou quem estamos anunciando nos dias de hoje.
Contam que um discípulo entrou num
mosteiro famoso. Muitos outros tinham feito a mesma coisa. Depois de alguns meses,
muitos foram embora. O discípulo, admirado, perguntou por que isso acontecia
tantas vezes. O mestre, com calma lhe disse. Aqui acontece como quando vão de
caça. O cachorro levanta uma lebre. Começa a correr e uivar forte. Muitos cachorros
o seguem por um tempo. Mas aqueles que não viram a lebre ou não sentiram o seu
cheiro, cansam e logo desistem e um atrás do outro se retira. Assim acontece na
vida religiosa, aquelas pessoas que não tiveram um encontro com Cristo, logo se
cansam e abandonam.
O Evangelho deste domingo nos
está exigindo um “descobrimento pessoal”. Não vale mais, mesmo que nunca valeu,
mas hoje muito menos: “Meu pai mi falou. Assim me ensinou minha catequista”. O tesouro
e a pérola somente nos levam a um compromisso autêntico, sem medir penas e
esforços, se de verdade O Cristo Vivente nos fez e nos faz vibrar porque tocou nosso
coração, mudando nossa existência em um antes e um depois.
Conclusão com um dito parabólico
Propondo parábolas Jesus se apresentou
como doutor sapiencial (cf. programa de Pr 1,2-7 e a descrição de Eclo
39,1-11). Há "letrados" que são doutores na lei (Torá), Jesus é doutor
no reinado de Dios. Essa é sua especialidade. Jesus a conhece como o amo de
casa seus depósitos. Pode sacar e oferecer produtos antigos e novos. Este breve
diálogo de Jesus com sus discípulos resume a intenção de todo el capítulo, apresentando
o modelo de discípulo. Os discípulos “entendem” (tema chave de todo este capítulo:
13,13.14.15.19.23.51). Agora são capazes de entender, vivencialmente,
os mistérios do Reino. A comunidade de Mateus, composta por crentes de diversa procedência
e mentalidade, deve saber valorar o “antigo”, a época da promessa, onde alguns deles caminharam, e o
“novo”, a do cumprimento, com a grande novidade que Jesus
proclama: entrar na “nova justiça do Reino” (5,17.20), onde não basta dizer “Senhor,
Senhor”, mas fazer a vontade de Deus Pai (7,21-27).
Justino Martínez Pérez –
Missionário Comboniano
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